Os últimos dias de chuva

 

Está marcado, tudo o que fez tornar o que é...

Escolheu se retirar, 

Gosta da chuva, dos dias em que todos se escondem.

Admira as folhas ao vento, brinca com as poças... Sente cada gota que vêm do céu, um instante de harmonia e descanso...

Não escolheu ser assim, não queria estar ali... Suas lágrimas que ainda despencam por seu rosto 

São seus desejos que não se realizaram... 

Momentos em que tem para si, não quer mais juntar seus potes, não quer mais manter suas lembranças...

Ele sabe que os dias de chuva estão para acabar, sabe que logo vai precisar retornar para seu refúgio...

Mas antes que tudo se acabe ele ainda pode brincar nas poças, pode sentir cada gota de chuva, 

Ele ainda pode sentir um pouco do amor que guardou em seu pequeno coração.

Â.A. 

Masmorra

 

Apenas completando o ciclo de sua existência,

Assumiu suas cicatrizes, enfrentou seus fantasmas...

Juntou todas suas pequenas partes e colocou em seus bolsos...

Um pensamento recorrente, se mantém mais seguro fora ou dentro? 

Criatura de olhos tristes, tentando preencher um vazio... Procurando algo que faça acreditar...

Lascas de cristais que refletem pequenas memórias que não são suas...

Pequeno monstro que buscou conforto em belas memórias, deixou o local onde se habituou...

Foi em buscas de tesouros perdidos... Se viu perdido, sozinho em um lugar que já não conhecia mais...

Suas vozes sussurram para que volte... O lugar que conhece não está tão longe ...

Pequeno monstro que ainda sente retorne a sua masmorra, retorne para um lugar onde você poderá se proteger ...

O vazio que você carrega, nunca vai ser preenchido ...

Â.A.

Quando se diz ...

Quando dizer... Não se tem hora, as vezes só temos de dizer...

O que dizer? Como dizer? Não sabemos ao certo, as palavras brincam de se esconder, elas fogem, se misturam...

O que sentir? O que mostrar? As vezes o melhor é não dizer... Pequena criatura assustada, não precisa ter medo.

Quando as palavras se alinham, quando o toque da pessoa certa, a presença de um coração que combina com o seu...

Quando houver tormenta, não quebre o vidro e fuja, fique, permaneça do lado, não precisa uma só palavra...

Apenas fique ali, a proteja, a envolva em seu abraço...

E no final de tudo, quando tudo passar apenas sussurre baixinho em seu ouvido, 

Eu te amo.

Â.A.

Das lembranças mais bonitas

 Pequeno monstro, há muito tempo guardando seus potes, juntando momentos...

...pequenas gotas de lágrimas pintam lembranças, suas plateleiras empoeiradas,

Alguns potes já sem cor, algumas plateleiras já perdendo sua força, despencando do alto...

... Seus potes se despedaçando, suas lembranças indo embora, pequenas asas voando para longe.

Seus dedos, suas mãos, já muito cansados de recolher os cacos, pequenos sorrisos entre o caos.

Das suas lembranças mais bonitas, de seus potes mais coloridos, foram aqueles que guardou em um lugar todo protegido... Mas que ele não se atreve a entrar...

Mas essa noite, pequeno monstro, carregou seu caixote com seus potes mais bonitos, subiu até quase tocar as estrelas...

Deixou seu caixote cair, seus potes todos se foram, suas lembranças aladas o envolveram...

Nesse exato momento, nessa noite, não se ouviu mas nenhum ruído da pequena fera, ele se foi... Junto com suas lembranças...

Â. A.

Cinzas

 

Pequeno monstro, pequena besta, acostumado a juntar pequenos potes

potes variados, grandes, pequenos... cada um com sua lembrança.

Potes que guardam cinzas, pequenos punhados de sua alma...

vez ou outra balança algum, fica olhando a poeira assentar,

formam imagens acinzentadas, meio desbotadas

suas lembranças já não são mais tão claras...

Vai caminhando, olhando o infinito do céu respingado de estrelas

sem perceber, algumas lágrimas marcam o chão ao lado de suas pegadas...

já não quer mais, um dia já teve vontade, mas agora...

... agora cada momento triste é um punhado de cinzas que cai ao seu lado

A esse pequeno monstro, resta esperar, não falta muito...

seus potes já estão acabando...

Â.A.