sábado, 3 de junho de 2017
Algo ainda vive
O espelho quebrado divide seu olhar
seu rosto já não é mais tão nítido.
Derramaram uma lata de tinta preta no arco íris,
nada mais brilha, nada mais reluz...
Assim como em um filme mudo, as palavras já não são importantes
as lembranças se tornam turvas, os rostos se embaçam e desfazem
É um esboço mau feito, um traço borrado
caminha se recostando nas paredes, tropeçando nos próprios pés.
Um abraço frio, um toque gélido, os gritos na cabeça...
todos indicam um só lugar...
Seus olhos mortos procuram o caminho,
seus passos lentos, o barulho de seu corpo se desfazendo a cada passo...
As poças de água refletem um pouco do que já foi,
ainda restam um pouco das cores,
Em meio a penumbra, seus olhos cadavéricos por um instante
conseguem enxergar seu reflexo...
Mas não é morto, nem sem cor, e algo ainda vive
se recosta na parede, já não se aguenta sobre as pernas
estende a mão, os dedos em direção ao reflexo...
encosta levemente os dedos na água gélida
Por um instante, nada mais parecia ruim,
por um instante pode ver as cores, sentir o vento em seu rosto,
pode ver a luz do sol e sentir o perfume das flores.
Em um lapso de tempo, tudo se foi, a água se tornou turva,
um vento frio começou a soprar...
Mas nem tudo acabou, conseguiu alcançar umas das flores
uma rosa, seus olhos nunca havia visto algo tão belo...
Por um instante se esqueceu do seu mundo de sombras
juntou a bela flor junto ao seu peito, a envolveu com as duas mãos
e então cerrou seus olhos e pela primeira vez... em muito tempo
Ele sorriu...
Â.A.
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