Enquanto fizer barulho

 

Enquanto fizer barulho, enquanto gritar, chorar, enquanto estiver escrevendo...

Não há com o que se preocupar, enquanto fizer ruídos, enquanto sussurrar palavras de amor, não há perigo algum ...

É como aquele ruído irritante, aquele barulho alto, aquele chiado constante... Enquanto estiver ali, tudo bem, não tem com o que se preocupar...

É como um relógio fora de compasso, não marca mais as horas corretamente... Soa seu sino em momentos errados, mas ainda está funcionando....

Se preocupe apenas quando não houver mais ruído... 

Soa como aquele brinquedo velho de corda, no fundo de uma caixa empoeirada...

Às vezes damos corda para ver se ainda está funcionando, e logo após é esquecido novamente...

Vive de poucos momentos, mas esse ruído há de ficar casa vez mais fraco... Como a música daquela caixinha, vai ficando cada vez mais baixa, difícil de escutar...

Enquanto fizer barulho não há com o que se preocupar, mas há de ficar cada vez mais baixo...

Enquanto fizer barulho...

Anjo Mau

Um ponto final

 

Às vezes basta nós decidirmos...

Decidimos o que fazer, decidimos o que comer...

...decidimos com quem conversar... Com quem estar ...

Talvez não seja a decisão mais fácil, pode ser que seja a mais difícil, a mais importante que iremos tomar...

Ficamos muito tempo pensando, analisando, tentando enxergar algo além daquilo que está a nossa frente,

Talvez não exista nada além do que está bem ao nossos olhos...

Vivemos tentando enxergar o que há além do óbvio...

Basta nós decidirmos, muitas vezes a resposta está em um ponto final.

Escolhemos nossas melhores máscaras, as melhores maquiagens, os melhores disfarces...

Mas as vezes nós estamos apenas cansados...

Cansados de dizer que tudo está bem, cansados de fingir... Cansados de ter um sorriso bobo em nossos rostos ...

Basta apenas uma decisão, seria a decisão mais importante...

Seria o último sorriso, a última coisa a se fazer... Seria o último suspiro.

Talvez a melhor decisão que se tenha, seja um ponto final...

Virar a última página, e fechar o livro que fomos postos para escrever...

Anjo Mau

Sua maldição

 

E sua maldição foi a mais cruel...

De tudo o que poderia acontecer,

O que recebeu foi algo que corroeu e continua a corroer seu ser...

Algo que não cessa, que não alivia... Pontos altos e baixos da mesma dor...

Maldição de um ser, acostumado à solidão...

Sua alma foi vendida... Mas seu castigo foi o pior que poderia existir...

Toda sua existência se resume a sentir... Pontos altos e baixos da mesma dor...

Condenado a enxergar o que lhe causa essa dor, mas sem o poder de acabar com seu desejo...

Sua alma foi vendida, seu ser amaldiçoado... O pior castigo que pode existir... Aprendeu apenas a amar...

Anjo Mau

Fim do caminho

 

Não importa o quão longo seja, não importa quantas voltas,

Quantas vezes está no topo ou no fundo do abismo...

O caminho uma hora vai chegar ao fim...

Há pequenos atalhos a se tomar, um pequeno impulso para o fim...

Há pontos que se pode admirar, outros que se quer correr, alguns que você vai querer voltar a visitar...

Mas não há retornos nesse caminho...

Vá se arrastando até o final...

Pequenos atalhos o deixam mais perto de acabar, muitas vezes você parece enxergar o fim...

Mas é só mais uma descida ao fundo do poço...

Em momentos vai se sentar em um canto, esperando que não exista mais caminho, que ele simplesmente avance sem você perceber...

Há quem diga, que em certos pontos existe um ser que pode lhe guiar até o final... 

... Um preço a se pagar ela exige...

Um pequeno pertence que você carrega, algo que assim que você tocar o pé ao final... Vai ser coletado e tudo o que você sente irá sumir...

Um pequeno valor, para uns altos de mais... Para outros algo pequeno, um pequeno valor para não ter que sentir novamente...

Um pequeno presente a quem não deseja mais desfrutar desse caminho, que não suporta mais sentir... Um pequeno empurrão para o fim do caminho...

Anjo Mau

Eu te amo

Hoje é somente um vago espaço...

Tudo que havia, tudo o que foi feito acabou engolido... Soterrado...

Foi enterrado entre momentos, risos e beijos...

Um espaço vago entre três palavras, um pequeno vazio...

Não se usa mais... Foi soterrado abaixo de muitas lágrimas...

Vez ou outra insiste em brotar...

Não importa quantas vezes o corte, quantas vezes se arranca sua raiz...

Um pequeno vazio em três palavras...

Um vago espaço que preenche todo um ser...

Se sufoca aos poucos, a cada palavra engolida... Pequeno espaço entre três palavras... 

Esse vazio um dia vai acabar...

Esse pequeno espaço entre três palavras... Um dia vai acabar,

Um dia vai encontrar um motivo... Uma saída...

Talvez esteja no espaço entre três palavras...

...Eu te amo...

Não vai significar mais nada, foi soterrado junto com momentos, risos e abraços...

E aos poucos, vai sendo soterrado... Todo um ser...

Que um dia se encantou com a luz... Mas seu lugar não era esse...

Seu lugar, é lugar nenhum... Espaço vago entre três palavras, vazio, sem nada...

Hoje se despede aos poucos...

De tudo o que queria viver...

Só restou se contentar com o vazio...

Espaço vago entre três palavras...

...Eu te amo...

Anjo Mau

Apenas isso...

Não existe mais o físico, existe apenas a casca...

Seu interior se desfez, há pequenos grãos, em alguns bocados espalhados...

Apenas isso, apenas está ali,

Do nascer ao poer do sol, apenas está ali, ocupando um espaço...

Não está vivo, não está morto, apenas existe ali, com seus bocados,

Bocados como montes de poeira, aos poucos se desfazendo....

Apenas isso, está ali, ocupando um espaço, um pequeno estorvo para todos ...

Não existe de verdade, é apenas um reflexo de um espelho quebrado ...

Está ali, meio morto meio vivo

Está esperando, apenas isso...

Está esperando tudo isso acabar...

Seu desejo não vai demorar a se realizar...

Está esperando, existindo aos poucos, um pequeno estorvo...

Se desfazendo como poeira...

Está esperando acabar, está esperando partir...

Está esperando a mão do carrasco executar o golpe....

Apenas isso... Está esperando...

Apenas isso, um beijo gelado da vida e o abraço da morte...

Anjo Mau

Reflexo sem um corpo

 

Existe, mas ao mesmo tempo não está lá,

Passeia entre pequenos espaço do vazio, assim como uma criança brinca de amarelinha ...

Sua pedra são pequenos pedaços do que um dia foi sua alma...

Um reflexo sem um corpo, assim como uma flor sem perfume... Alguém que não existe...

Pequenos momentos que parecem ser reais, pequenos sopros de morte, preço alto a se pagar ...

Um reflexo sem um corpo, assim como um livro sem enredo ...

Um erro que foi deixado passar, 

Vive entre os vazios, costura retalhos de sonhos...

Sua existência já foi esquecida a muito tempo...

Anjo Mau.